terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

TOLERÂNCIA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO SOCIAL

Sempre pensei que tão importante quanto fazer uma critica ás instituições é fazer a autocrítica do meio social onde o individuo está inserido. Enquanto prossegue o debate sobre o que fazer com a intolerância alheia, algo que freqüentemente ignora-se é como reconhecer e lidar com a nossa própria intolerância.
Em sua forma cotidiana, a intolerância é uma atitude que denigre e menospreza outros seres por causa de suas opiniões, características físicas e/ou culturais, retratando algo negativamente devido aos próprios preconceitos, etc. Num nível mais extremo, os genocídios históricos que temos notícias foram resultados dela, cujo exemplo mais cruel foi o Holocausto na 2ª guerra Mundial.
O colonialismo foi baseado em parte, na falta de tolerância para com culturas diferentes daquela da metrópole. O que é estranho deve sumir do mapa. Já o preconceito social tem como origem o pensamento feudal de determinadas classes sociais e provém da divisão da sociedade em classe dominante (que detém o capital e os bens de capital) versus a classe dominada (aquela que possui a força de trabalho apenas). A discriminação consiste em acreditar que as classes mais pobres são inferiores ás que possuem capital.
Surgem, dessa maneira, dois grupos antagônicos: o primeiro deles, o Grupo elitizado, favorecido financeira e intelectualmente, visto pelos membros da sociedade como os batalhadores, os estudiosos e os aplicados; e o grupo “inculto”, dos subalternos. São estes que sofrem discriminação social por parte da mediocridade de certos indivíduos, que se valem da aparência para julga-los, avaliando o grau de honestidade e capacidade pelo poder aquisitivo. Na verdade, não analisam a questão na sua integra, pois, se dessa forma agissem, constatariam que nem sempre os incultos são os que não tiveram acesso a boas escolas, universidades ou intercâmbios.
Permanecer-se fechado e isolado apenas a grupos de afinidade intelectual, social ou situacional, não deixa de ser uma forma onde o preconceito velado vai crescendo e alimentando ainda mais o vergonhoso discurso quadrado, repetido. Evitando assim a descoberta de pessoas e idéias que sempre nos pareceram desinteressantes preconceituosamente, através de uma análise superficial freqüentemente precipitada e geralmente carregada de interpretações visuais. É assustador ver as proporções que o preconceito vem alcançando sem que as pessoas se dêem conta, pois está mascarado em nosso cotidiano. O pior dos preconceitos, porém, apresenta-se cruelmente e sem artifícios: a discriminação social, regida e controlada pelo dinheiro. É justamente essa forma de conceito formado por antecipação que faz a desigualdade social aumentar absurdamente.
A igualdade deve ser entendida como igualdade de direitos em igualdade de condições, sem distinção de castas, raças ou grupos sociais (políticos, religiosos, partidários,etc...) a igualdade não é portanto, o nivelamento puro e simples dos indivíduos, pois estes diferem entre si pelo seu valor, decorrente das qualidades pessoais. Cada um presta á coletividade serviço de maior ou menor importância, merecendo em retribuição prerrogativas correspondentes á sua função social.
De todas as virtudes, a tolerância revela um paradoxo chamado por Karl Popper de “paradoxo da tolerância”: “Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância”.
O preconceito leva á discriminação quando pessoas são classificadas pela sociedade como “diferentes” (tais como pobres, negros, homossexuais, mulheres, idosos e doentes mentais) são considerados inferiores e excluídos dos privilégios desfrutados por aqueles que se consideram “melhores”. As atitudes preconceituosas podem ter inúmeras causas, desde a maneira como aprendemos a lidar com certas pessoas até problemas interpessoais exteriorizados naqueles que desprezamos; e conseqüentemente infelizes, principalmente quando pessoas realmente capazes são excluídas por terem algo que as diferencia das demais.
Se desejarmos combater o preconceito injusto e a discriminação indevida, a solução não é impor igualdade mascarada e fictícia por intermédio de leis. A solução é admitir e esclarecer as diferenças, as aparências e as realidades para que o sistema de defesa humano as compreenda e não rejeite o que for normal e saudável. Tentar impor qualquer tipo de igualdade, por força de lei, é semear a falsidade, a hipocrisia, o desrespeito e, por conseqüência, a violência. Respeitar não é simplesmente compreender, tolerar e querer bem ao próximo. Respeitar o próximo é também ter a coragem de repreendê-lo para que se torne bem-sucedido como ser humano e cidadão.
Na antropologia é ensinado que, ao avaliarmos os costumes de outros povos temos tendência de partir de nossos valores culturais, o que representa uma atitude etnocêntrica chamada de relativismo. Quando isso acontece, corremos o riso de procurar neles “o que lhes falta” e esquecermos de ver com clareza o que eles são de fato.
O mal do homem é querer sempre crescer em cima do próximo, querer se mostrar certo em suas opiniões. A partir do momento em que o homem colocar em mente, que todos somos iguais como seres humanos, mas diferentes entre si e possuindo personalidades, gostos e costumes diferentes, podemos dizer que o combate do preconceito começa a partir da consciência de cada um.
O que vale mais: ter a listagem das virtudes na ponta da língua ou carrega-las no coração, dando seus exemplos diariamente, no cotidiano? Muitas vezes a luz brilha nas trevas, e as trevas não a recebem. Antes de querer reformar o mundo, é preciso que se reformem os homens.

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